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Um novo estudo reforça o alerta sobre os riscos da dengue para a mortalidade materna e os desafios da assistência às gestantes. O artigo ?Dengue in pregnancy and maternal mortality: a cohort analysis using routine data? (Dengue na gravidez e mortalidade materna: uma análise de corte utilizando dados regulares), publicado este mês na Scientific Reports, da Nature, aponta que as grávidas expostas ao vírus têm um aumento de chances de óbito entre três e 541 vezes, a depender do quadro clínico. O perigo de eclampsia e pré-eclâmpsiatambém são aumentados, levando ao falecimento dessas mulheres.
O trabalho tem como autora principal a epidemiologista e pesquisadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), Enny Paixão, que já havia relacionado a dengue ao aumento do risco de óbito fetal. O artigo teve colaborações de pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva da Bahia e do London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido.
?Foi observado que a dengue aumenta o risco de óbito materno em três vezes, pelo menos. Então, em áreas onde essa doença é endêmica, que é o caso do Brasil, a dengue deve ser investigada e, no caso de constatada a doença, intervenções precoces devem ser realizadas para evitar o óbito desta gestante?, reforçou Enny Paixão. Pernambuco também se insere como área endêmica e, por isso, necessita de atenção. Este ano já foram registrados 13.006 casos suspeitos de dengue na população pernambucana (homens, mulheres e crianças), um aumento de 17,3% em relação ao mesmo período de 2017. O Estado, desde 2015, diante da emergência do zika vírus, passou a estabelecer a notificação obrigatória de grávidas com manchas vermelhas no corpo (doença exantemática).
Em 2018, até 7 de julho, 223 gestantes foram incluídas no cadastro para acompanhamento por suspeita de arboviroses, que tem como um dos sintomas essas machas. Dessas, 44 já tiveram resultado positivo para dengue. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que não há óbitos de gestantes confirmados por arboviroses nos últimos anos, mas que, em 2018, foram confirmados dois casos de dengue grave entre o grupo. Em 2017, houve um caso confirmado de agravamento.
Metodologia
O estudo conduzido pela pesquisadora baiana realizou um coorte de base populacional para investigar a associação entre dengue sintomática durante a gravidez e mortes no Brasil, de 2007 a 2012. Nesses seis anos, entre as mais de 10 mil mortes maternas registradas por diferentes causas, foram triadas apenas aquelas que tiveram filhos nascidos vivos e aquelas onde eram possível atribuir à situação de dengue. O número final da amostra foi de 4.053 mortes maternas, ou seja, óbitos durante a gestação ou até 42 dias após o parto. No trabalho a pesquisadora dividiu a doença nas categorias clínicas de dengue, dengue complicada e síndrome de dengue hemorrágica/choque de dengue.
Resultados
A dengue durante a gravidez triplicou o risco de morte materna. Quando se analisou apenas os casos de mortes confirmados laboratorialmente, a dengue aumentou em quase oito vezes a chance de óbito dessas mulheres. Em relação à dengue complicada, as chances do óbito das mães subiam 27 vezes. Já no quadro de febre hemorrágica da dengue esse número era 451 vezes maior. O estudo alertou que mudanças fisiológicas na gestação podem mascarar sintomas do quadro hemorrágica, dificultando o diagnóstico. Isso implica na subnotificação da real causa dos falecimentos. Outro dado que chamou atenção da pesquisadora é o percentual de falecimentos por pré-eclâmpsia ou eclâmpsia. Entre as mulheres com dengue o indicie de óbitos relacionados a essa causa chegou a 25%, enquanto que no grupo sem relação com dengue foi de 19%.