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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu em um diário sobre seu período na Presidência (1995-2002) que, em 1996, rejeitou nomear o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para a diretoria comercial da Petrobras, informou a edição deste mês da revista "Piauí".
De acordo com trecho do diário, que segundo a revista resultou no livro "Diários da Presidência", a ser lançado até o fim do mês, deputados do Rio de Janeiro visitaram FHC em 22 de março de 1996 para pedir a nomeação de Cunha para a diretoria da estatal. O ex-presidente negou e disse que havia "problemas" com esse nome. Ele escreveu que Cunha, quando presidiu a Telerj, havia feito "trapalhadas".
"Na verdade o que eles querem é nomear o Eduardo Cunha diretor comercial da Petrobras! Imagina! O Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar porque ele tinha trapalhadas, ele veio da época do Collor. Eu fiz sentir que conhecia a pessoa e que sabia que havia resistência, que eles estavam atribuindo ao Eduardo Jorge; eu disse que não era ele e que há, sim, problemas com esse nome. Enfim, não cedemos à nomeação", reproduziu a revista.
Segundo a "Piaui", FHC registrou em um gravador o dia-a-dia do trabalho em Brasília. No dia 23 de março de 1996, o ex-presidente conta que recebeu, no dia anterior, os parlamentares do Rio que queriam a nomeação de Cunha, liderados pelo ex-deputado e ex-senador Francisco Dornelles.
Fernando Henrique ainda registrou no diário que, ao contrário do que imaginavam os parlamentares do Rio, a resistência à indicação de Cunha não vinha do então secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge. FHC disse que havia "problemas" com o nome de Cunha.
Cunha comenta
Cunha se manifestou sobre o assunto na manhã desta segunda-feira (5) por meio de de sua conta no Twitter. Ele escreveu que não tinha conhecimento do pedido para que assumisse a diretoria comercial da Petrobras.
"Mesmo assim movimento que não contava com a minha concordancia,ja que não queria voltar para trabalhar em governo", completou Cunha.
PFL
"Hoje veio a bancada do PFL de Minas tomar café da manhã comigo. Todos dizem que têm questões menores, que não querem conversar comigo, que eu designe quem tratará do assunto, e eles só querem umas nomeaçõezinhas, uns contratinhos, essas coisas, o beabá dessa política empobrecida.
Mas discutimos os grandes temas. Levantaram as dúvidas gerais, dei uma quase aula sobre a situação do Brasil, foi agradável. Não vai mudar nada enquanto não se fizerem as nomeações que estão desejosos de ter. [...]." (em 28 de novembro de 1995)
José Serra
"Tive uma longa conversa com Serra. Aí sim, fomos mais a fundo a respeito da nossa relação. Ele voltou a dizer que eu acho que foi contra o Plano Real, que não foi contra o Real, que ele não acreditava [na possibilidade política de o pôr em prática], eu sei que é isso. Voltei a explicar a ele o porquê de o Malan ser o ministro da Fazenda, Serra concorda comigo que é porque dá a sensação de estabilização. Disse-lhe o que esperava de cada um e que não adianta tentar resolver questões que não têm solução, não posso mexer agora com o Banco Central. [...]." (em 9 de dezembro de 1995)
Ministérios
"[...] Agora no fim da noite, encontrei a Dorothea [Werneck, ministra da Indústria, do Comércio e do Turismo]. Estava aflita pelas notícias de que o ministério dela podia ser barganhado com o PPB. Expliquei que não era assim, isso cria um ânimo ruim, desmoraliza as pessoas que estão trabalhando no ministério. É uma coisa lamentável, a gente tem que fazer frente a essas fofocas que saem na imprensa e que levam a situações desagradáveis, de que eu não gosto, de incerteza. [...]." (em 24 de março de 1996)
"Parece que o PPB não aceita o Ministério da Reforma Agrária sem o Incra. [...] [O ex-deputado federal e ex-ministro, morto em janeiro de 2013] sugeriu que ampliássemos a oferta e incluíssemos o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. Isso para mim é dolorido, por causa da Dorothea, que é uma ministra de quem eu gosto, e ela tinha que ser avisada dessa manobra." (em 25 de abril de 1996)
"Enfim, começo a sentir o travo amargo do poder, no seu aspecto mais podre de toma lá, dá cá, porque é isto: se eu não der algum ministério, o PPB não vota; se eu não puser o Luiz Carlos Santos, o PMDB não cimenta, e muitas vezes - o que Dorothea diz tem razão - fazemos tudo isso e eles não entregam o que prometeram. [...]" (em 25 de abril de 1996)
Eldorado dos Carajás
"Hoje está claro o que aconteceu no Pará: foi um massacre. Houve um incidente com um grupo de pessoas que ocupou uma estrada, o governador do Pará mandou a polícia local desobstruir essa estrada, e ela cometeu o massacre. Nada a ver diretamente com a reforma agrária. Não obstante, fica parecendo que tudo isso é consequência da falta de reforma agrária. Tudo bem, é normal que assim seja, mas essa também é uma nova política do PT e associados, de acabar jogando a culpa no governo federal, pois a reforma agrária está no plano federal. O que, aliás, é outro erro."
(Fonte: G1)